domingo, 26 de outubro de 2008

A Hipótese do Hipopótamo Tartamudo


HIPÓTESE DO HIPOPÓTAMO TARTAMUDO

Uma balada comportamental

Bráulio Tavares


Imagine um hipopótamo
Tartamudo e espantado
Amarrado na rua do Ouvidor
Triste como um filho póstumo
Escutando estarrecido
O enorme ruído das gargalhadas do mundo em redor


Esta criatura trágica
Este corpanzil corcundo
Abrindo uma guela áfrica
Botando a boca no mundo


Pois é assim que eu sou
Pois é assim que eu sinto que sou
Quando subo num palco pra cantar
Padecendo o mais péssimo dos medos
E nem mesmo consigo dedilhar
Com o tremor que me dá em cada dedo
Tanta gente escutando a minha voz
Tantas caras e pares de ouvidos
Mas a guela escorrega nos bemóis
Ou então nem alcança os sustenidos


Eu sei que tem gente que é muito mais valente
E acha essa história de cantar
Um negócio extremamente ótimo
Eu acho também:
Mas eu me sinto um hipopótamo


Imagine, novamente, um hipopótamo
Caminhando equilibrado
Num fio de arame farpado
Longuissimamente esticado
Por sobre as enormes cachoeiras de lá da foz do Iguaçu
Inquieto como átomo
Sob o foco das câmaras de TV
Sem olhar pra baixo pra não ver
A cascata rugino pra valer
E a risada feroz de Belzebu...


Refrão

Pois é assim que eu sou
Pois é assim que sinto que sou
Quando fico de olho numa mulher
E ela fica também de olho em mim
E eu sei muito bem o que ela quer
Porém fico enrolado mesmo assim
Tropeçando nas minhas próprias pernas
Sem saber o que faça, como e quando
Infeliz como um homem das cavernas
Oscarito imitando Marlon Brando


Eu sei que tem gente que é muito mais valente
E acha essa história de trepar um negócio extremamente ótimo
Eu acho também!
Mas eu me sinto um hipopótamo


Imagine, finalmente, o hipopótamo
Num pantanal movediço
Afundando pesadíssimo
Sentindo a boca do abismo
Sorver suas bobas toneladas
Ofegante como um búfalo
Berrando, pedindo ajuda
No ouvido da selva surda
Sem ter ninguém que lhe acuda
Mesmo porque já passa das quatro e meia da madrugada


Refrão

Pois é assim que eu sou
Pois é assim que eu sinto que sou
Quando às vezes me olho num espelho
E percebo que desde que eu nasci
Que eu só faço viver e ficar velho
Sem saber o que vim fazer aqui
Com a corda do tempo no pescoço
E os pés a pisar num alçapão
Mil perguntas doendo em cada osso
Mil cantigas pedindo explicação


Eu sei que tem gente que é muito mais valente
E acha essa história de viver
Um negócio extremamente ótimo
Eu acho também
Mas eu nasci um hipopótamo

Um comentário:

Clotilde Tavares disse...

A letra tem alguns errinhos - pequenos. se vc permitir, eu mando corrigida. Citei no meu blog. Sou irmã de Braulio.